Página do Projeto Apoema - Educação Ambiental

(Antigo Projeto Vida - Educação Ambiental)


 Matéria publicada na Revista do Professor, Porto Alegre – janeiro de 1998

Reciclagem Educativa

Confecção de recursos didáticos com aproveitamento de papéis

 

· EGON LERNER

Licenciado em Biologia

Pesquisador do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS

Porto Alegre/RS.

 

Na educação, deve prevalecer uma preocupação constante com o ambiente em que o nosso educando vive. Orientar o aluno em ações conscientes no sentido de que ele viva a sua vida plenamente, com o mínimo de desperdícios dos bens oferecidos pelo nosso planeta, também é dever do educador.

Sendo o papel o maior volume de resíduos produzidos pelas nossas escolas, apresentamos aqui sugestões para o seu reaproveitamento na confecção de recursos didáticos, em qualquer nível. da pré-escola ao terceiro grau.

Procedimentos

1. Selecionar o papel conforme a sua textura.

2. Picar o papel em porções de aproximadamente quatro por quatro centímetros

3. Hidratar o papel (em um balde), deixando o mesmo de molho em água. durante um período mínimo que varia com a sua textura, como indica a tabela. Hidratá-lo bem é o primeiro segredo para obtermos uma boa massa. E preferível aumentar o período de hidratação do que diminuí-lo. A temperatura da água influi no tempo de hidratação.

TEMPO DE HIDRATAÇÃO DO PAPEL

CONFORME SUA TEXTURA

Tipo de papel

Tempo de hidratação

Toalha

Dois dias

Jornal

Sete dias

Ofício

Vinte dias

Papelão

Trinta dias

  • 4. Triturar o papel em liquidificador.
  • O uso correto do liquidificador é imprescindível para evitar a queima do motor do mesmo. Pode ser o doméstico, mas preferimos o industrial, com copo de capacidade de seis litros, usado na preparação da merenda escolar. Convém providenciar um copo especialmente para triturar o papel, acompanhando as etapas descritas a seguir.

    · Encher o copo do liquidificador com água, até o nível em que a mesma não transborde, quando o motor for ligado.

    · Fechar o copo do liquidificador com a sua tampa.

    · Ligar o motor do liquidificador.

    · Com o liquidificador ligado, erguer parcialmente a tampa (um lado da tampa fica apoiada na borda do copo) e adicionar um punhado de papel hidratado. Fechar a tampa antes que a porção de papel atinja o fundo do copo.

    · Repetir esta operação várias vezes, prestando atenção ao ruído do motor e ao movimento de rotação da água dentro do copo do liquidificador. Quando o movimento de rotação da água começar a fechar e abrir o redemoinhar da mesma, é sinal de que a quantidade de papel atingiu a capacidade de trituração do aparelho.

    · Com a tampa fechada, manter o aparelho ligado por mais um curto período de tempo e desligar.

    · Despejar o conteúdo do copo em uma bolsa de pano. Utilizamos um saco de tecido ( saco de açúcar) colocado dentro de um balde, com a sua porção superior dobrada sobre a borda do mesmo.

    · Fechar a bolsa e erguê-la levemente com uma das mãos, girar a bolsa com o conteúdo, enquanto se efetuar leves pressões sobre ela. Uma vez expulso o excesso de água da bolsa, teremos a nossa massa de papel pronta.

    Essa massa pode ser utilizada logo em seguida para serem preenchidas as fôrmas. O ideal é guardá-la em recipientes de plástico fechados, podendo ser saco ou sacola plástica, com o cuidado dos mesmos não terem nenhum furo.

    Massa guardada por uma, duas ou até mais semanas fica melhor para ser trabalhada. Pessoalmente guardamos a massa, sem problemas, por oito meses em temperatura ambiente.

    A água recolhida no balde deve ser reaproveitada na próxima trituração.

    O professor pode aproveitar a oportunidade para dialogar com os alunos a respeito do desperdício da água potável e a poluição da mesma

    Fôrmas

    São inúmeras as fôrmas existentes no comércio que podem ser utilizadas para a obtenção de recursos didáticos, mediante o seu preenchimento com massa de papel reciclado. Entre elas, destacamos:

    · todos os tipos de forminhas educativas em plástico rígido para modelar na areia, com massinha ou cortar massas para a produção de bolachas;

    · fôrmas plásticas (acetato) para chocolate caseiro;

    · fôrmas plásticas para a produção de gelo em geladeiras;

    · fôrmas metálicas para cortar massas;

    · potes plásticos;

    · bolas e bolinhas de borracha ou plástico, abertas na sua linha equatorial,

    · bolinhas de celulóide, como as de pingue-pongue, abertas em dois hemisférios.

    Confecção de Fôrmas

    Dependendo do objetivo a atingir com a confecção de materiais (didático ou de adorno), podemos produzir as nossas fôrmas com materiais disponíveis, tais como:

    · madeira maciça recortada na forma desejada;

    · lata de funileiro moldada;

    · cano de PVC, nas medidas e bitolas conforme o necessário;

    · borracha de silicone de acordo com o molde desejado. A primeira vista o custo da fôrma de silicone parece elevado, porém, torna-se insignificante se considerarmos que podem ser produzidas centenas de peças com a mesma fôrma:

    · gesso, considerando porém, a desvantagem de que as fôrmas devem ser revestidas por uma película de verniz e são facilmente danificadas ao serem preenchidas.

    Preenchimento de fôrmas

    Para o preenchimento das fôrmas, devemos trabalhar sobre uma mesa revestida com fórmica ou coberta com toalha plastificada ou emborrachada.

    A massa para preencher as fôrmas deve estar bem úmida, a fim de permitir uma boa agregação.

    A fôrma é preenchida gradualmente com porções pequenas de massa e que vão sendo pressionadas, a fim de obter uma boa compactação. A pressão pode ser feita com um socador de madeira ou taquarinha, uma lâmina de faca ou um palito de picolé, dependendo das dimensões da fôrma. Para compactar a massa somente com as mãos, a mesma deve estar muito bem hidratada.

    O excesso de água que vai escorrendo, na medida em que a fôrma é preenchida, deve ser recolhido com um pano (utilizamos o tipo perfex). Prestar atenção para o fato de que não devemos secar a massa dentro da fôrma, enquanto esta não estiver completamente preenchida

    Cada tipo de fôrma tem seus detalhes no processo de preenchimento.

    1. Fôrmas côncavas pequenas

    Depois da fôrma estar repleta massa, bem compactada com o auxílio de uma faca ou palito de picolé, emborcá-la sobre a mesa. Efetuar, então, uma pressão sobre a mesma, realizando, ao mesmo tempo, movimentos circulatórios.

    Desvirar a fôrma e verificar a nível da massa. Retirar o excesso ou adicionar mais massa (compactando), conforme o caso.

    Uma vez bem preenchida a fôrma, passar o dedo nas suas bordas, de fora para dentro, a fim de melhorar o acabamento da peça em produção.

    2. Fôrmas côncavas grandes

    Depois da fôrma estar totalmente preenchida de massa, compactada com um socador, estender sobre a massa contida na fôrma um pano (perfex ou saco de açúcar) e passar um rolo (cano de PVC, garrafa ou cilindro de madeira) sobre o mesmo, fazendo pressão.

    Erguer o pano e verificar a necessidade de adicionar ou retirar massa.

    Passar os dedos, de fora para dentro, no contorno da peça em produção, de tal forma que a massa preencha perfeitamente a fôrma, sem que a mesma fique sobre suas bordas.

    Quanto mais secarmos (com pano e rolo) a massa, depois da fôrma totalmente preenchida, melhor será o seu desmolde.

    3. Fôrmas vazadas

    Apoiar a fôrma sobre a mesa que fará o papel de fundo da fôrma. Firmar a fôrma com uma das mãos e, com a outra, ir pressionando a massa, com o auxílio de um socador (faca e palito de picolé, em peças pequenas, e socador de madeira ou taquara, pano e rolo em peças grandes). Uma vez totalmente preenchida, virar a fôrma e acertar a outro lado. Repetir esta operação tantas vezes quantas forem necessárias. Acomodar a massa nas bordas da peça, passando o dedo de fora para dentro. Secar ao máximo a peça com um pano.

    4. Conjugação de fôrmas

    Para a confecção de peças escavadas e/ou de encaixe, podemos utilizar a artificio de conjugar fôrmas. Utilizamos uma externa, preenchida até o nível de encaixe da fôrma interna, que limitará a concavidade da peça a ser produzida. Firmando bem a fôrma interna, com uma das mãos, continuamos o preenchimento do espaço entre as duas fôrmas.

    A fôrma interna deve ser rígida o suficiente para evitara formação de biséis (pregas ou vincas em quinas).

    Desmolde

    Quando dispomos de um número suficiente de fôrmas, as peças produzidas podem desidratar dentro das mesmas.

    Ao desenformar (desmoldar) as peças produzidas ainda úmidas, temos a vantagem de aumentar a superfície de evaporação. Com isso aceleramos a sua desidratação.

    A umidade relativa da ar influi diretamente na desidratação do material e , consequentemente, em seu desmolde. Em períodos quentes do ano, com umidade relativa do ar baixa, a maioria das fôrmas permite um desmolde imediatamente após seu preenchimento. Em períodos frios e chuvosos do ano, umidade relativa do ar alta, devemos proceder ao desmolde das fôrmas pequenas após vinte e quatro horas, enquanto as grandes devem ser desenformadas após dois ou três dias.

    Para desenformar as peças de fôrmas côncavas pequenas, seguramos as mesmas em uma das extremidades e efetuamos batidas leves sobre a mesa com a outra extremidade, mantendo-a numa leve inclinação. Giramos a fôrma e efetuamos as batidas com a outra extremidade sobre a mesa. Esses movimentos devem ser leves e repetitivos até acorrer a desmolde. Enquanto a peça não desidratar, é frágil e quebra com facilidade. Peças muito curvas, como símbolos gráficos (S, 2, 5), devem desidratar um pouco mais nas fôrmas, pois quebram com maior facilidade enquanto úmidas.

    Para desenformar peças produzidas em fôrmas côncavas grandes, normalmente confeccionadas em borracha de silicone, bolas plásticas ou de borracha, efetuamos leves descolamentos nas paredes laterais da fôrma, puxando a mesma em dois pontos opostos, com ela emborcada. Estes puxóes são alternados em pontos distintos até ocorrer o desmolde.

    As fôrmas vazadas são as mais fáceis de desenformar, pois isto pode ser feito independente da umidade relativa do ar. Depois de preenchida, a fôrma é batida com as suas laterais sobre a mesa, em movimentos leves, alternando as faces que recebem o impacto da batida sobre a mesa, até se desenformarem.

    Quando trabalhamos com a conjugação de fôrmas, devemos remover primeiro a interna e por último a externa.

    Na confecção de vasos biodegradáveis, produzidos com o objetivo de substituir os vasos de xaxim, devemos remover, assim que possível, a fôrma interna. Isto deve-se ao fato de que a massa de papel, ao desidratar, sofre uma polimerização, diminuindo o diâmetro da luz do vaso bem como a sua altura.

    A fôrma externa pode esperar mais algum tempo para ser removida.

    Sempre que reproduzirmos uma peça em semicírculo, como os símbolos gráficos C e G. devemos prestar atenção na sua desidratação fora da fôrma, pois, se não colocarmos um espaçador mantendo as suas aberturas, elas tenderão a fechar-se.

    Desidratração

    O tempo de desidratação das peças vai depender da espessura das mesmas e da umidade relativa do ar.

    Uma peça que, no verão, seca em vinte e quatro horas, no inverno, pode levar urna semana.

    Podemos acelerar a desidratação expondo o material ao Sol, com o inconveniente da despigmentação causada pela ação da luz. Ainda podemos secar o material cm estufa. Evitamos este procedimento sempre que possível, pois nosso objetivo também é Educação Ambiental e isso inclui preocupação com o consumo desnecessário de energia.

    Montagem de peças

    Sempre que produzimos peças em pares para formar um todo, como dois hemisférios para formar uma esfera, órgãos tridimensionais da anatomia humana, animais produzidos em duas peças especulares etc., devemos prestar atenção para a sua montagem. A montagem de um trabalho com hemisférios por exemplo, demonstra ser mais viável com a utilização de cola plástica entre eles, depois de secos.

    Peças da anatomia humana, montagem de animais e peças com ramificações, nas suas diferentes porções, demonstraram a necessidade de serem coladas com a massa ainda úmida.

    Furos

    Temos dois procedimentos básicos para produzirmos peças com furos:

    1. incluímos no local desejado uma peça cilíndrica de plástico ou madeira, ao preenchermos a fôrma, e a removemos posteriormente:

    2. depois da peça totalmente desidratada, efetuamos o furo com um arame galvanizado, aquecido ao fogo. A ponta deve estar rubra.

    Como exemplo, citamos os algarismos, em que são feitos os furos com um arame aquecido, num diâmetro tal que permita a colocação de palitos de fósforo, a fim de que a criança trabalhe a quantidade representada pelo símbolo.

    Na confecção de pequenas esferas cm tamanhos e cores diferenciados, para a representação dos elementos químicos e as suas ligações, são feitos furos, com arame aquecido, no mesmo diâmetro dos pedacinhos de arame empregados na representação das suas valências e tipos de ligações.

    Na confecção de esferas grandes para a representação do globo terrestre, o eixo imaginário é representado por um arame. O furo é feito cm cada hemisfério, antes dos dois serem unidos por cola.

    Na confecção de esferas para serem suspensas, para representar os planetas do sistema solar, por exemplo, o furo é feito em um dos hemisférios e antes de unir os dois, passamos uma linha de náilon pelo orifício e colocamos uma de suas pontas entre os dois hemisférios com a cola que irá uni-los.

    Pintura

    Se aspiramos obter uma massa colorida, podemos adicionar tinta solúvel na água, na cor desejada, no momento da trituração do papel, ou selecionar papel na cor pretendida e triturá-lo separadamente.

    Se desejarmos uma massa mais branca, podemos adicionar alvejante no momento da trituração do papel.

    Pessoalmente, em função do desenvolvimento da psicomotricidade do aluno, preferimos a pintura do material após a desidratação total das peças produzidas.

    Qualquer tipo de tinta com aderência em papel pode ser utilizada. Na maioria das vezes, utilizamos as tintas genericamente denominadas de têmpera, devido ao seu uso tradicional nas escolas, a sua não toxidade e á facilidade com que são encontradas no comércio.

    O tamanho do pincel a ser utiliza após a desidratação total das do varia de acordo com a peça e os detalhes que desejamos pintar.

    Em símbolos gráficos, devemos evitar a pintura do reverso da peça, pintando somente o anverso e as laterais da mesma. Evitar, ainda, pinturas multicoloridas, preferindo sempre uma única cor para o conjunto das letras, por exemplo, utilizado na alfabetização. Quando muito, diferenciar apenas 35 vogais das consoantes.

    Quando a pintura fica numa tonalidade muito fraca, esperamos a sua secagem e depois passarmos mais uma demão.

    Plastificação

    Depois da tinta estar bem seca podemos plastificar a peça, aplicando uma película de cola branca levemente diluída em água. A diluição deve ser feita a um ponto tal que permita a sua distribuição uniforme com duas (no máximo três) passadas do pincel no mesmo local. A camada de cola deve cobrir a tinta e não ser misturada a ela.

    A cola que tem demonstrado um resultado melhor é a Tenaz-cola profissional, conhecida como a do rótulo vermelho.

    Outros produtos, como o verniz incolor, dão um bom resultado, mas tem o inconveniente de serem tóxicos. Desaconselhamos, por isso, o seu uso por crianças.

    Antes de empilhar as peças plastificadas, certificar-se de que as mesmas estão bem secas.

    Histórico das atividades

    O desenvolvimento das atividades aqui descritas com a reciclagem do papel teve início no Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, em 1992. Na época, nossa pesquisa tinha dois objetivos básicos:

    1. Desenvolver uma técnica para a confecção de um vaso biodegradável para a substituição dos vasos de xaxim, que, apesar da proibição legal, continuam no comércio.

    2. Sistematizar técnicas para o desenvolvimento da Educação Ambiental Formal, partindo de ações do educando em seu meio escolar.

    Os trabalhos tiveram uma aceitação muito superior às expectativas iniciais, junto aos professores e à comunidade. Hoje, encontramos professores trabalhando as técnicas em escolas, com os alunos, em suas residências, comercializando o produto final e um terceiro grupo disseminando a técnica, através da repetição das oficinas pedagógicas desenvolvidas no MCTPUCRS. em encontros, seminários, simpósios e congressos de educadores.

    Para termos uma idéia da abrangência dos trabalhos, relacionamos os materiais lúdicos e pedagógicos mais produzidos até hoje com professores de escolas e líderes comunitários, junto ao Núcleo de Apoio ao Ensino de Ciências e Matemática (NAECIM) do Museu de Ciências e Tecnologia ( MCI) da PUCRS:

  • · Jogos estruturados, tais como:

    blocos lógicos universais, jogo de dominó etc.

    · Jogos de bilboqué.

    · Símbolos gráficos.

    · Papel-cartaz.

    · Quebra-cabeças.

    · Diferentes tipos de animais, recentes e fósseis.

    · Globo terrestre, com mapa mundi e fusos horários, com zonas térmicas e camadas da Terra (peças encaixadas).

    · Mapas.

    · Maquetes;

    · Sistema solar, mantidas as proporções entre os diferentes planetas.

    · Estrutura atômica, representação tridimensional.

    · Estrutura tridimensional de moléculas.

    · Estrutura tridimensional de compostos químicos.

    · Estrutura tridimensional de reações químicas de síntese e de análise.

    · Tubo digestivo humano em relevo.

    · Manequim humano, com órgãos em pegas de encaixar.

    · Peças ornamentais, tais como:

    apliques com ímã embutido, bótons, símbolos natalinos (presépio e enfeites de árvore), símbolos de Páscoa, móbiles e enfeites para cartões de visita.

    · Utilitários domésticos, tais como:

    vasos biodegradáveis, embalagens térmicas para mamadeiras e cervejas, porta-jóias e caixas de tamanhos diversos.

    Matéria publicada na Revista do Professor, Porto Alegre – janeiro de 1998


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