Prezados Colegas e Visitantes

 

No II Fórum Mundial de Educação e no III Fórum Social Mundial ocorrido no ano de 2003, em janeiro, pude ter contato com pessoas maravilhosas que buscam alternativas para tornar a vida melhor, entre elas, uma pessoa fantástica: Leonardo Boff. Posso dizer que se eu já era apaixonada pela Educação Ambiental, essa paixão se multiplicou em forma de incentivo e motivação por ver tanta gente acreditando que "UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL". Com o objetivo de irradiar esta emoção, é com muita alegria que dedico esta página ao querido Boff e a CARTA DA TERRA tão defendida por ele. Suas idéias são sementes. Quero distribuí-las para quem aqui chegar para que cada um plante-as em seus corações...


Duas entrevistas selecionadas que dizem muito sobre este grande Mestre:

 

"A escola deve se articular com a natureza diretamente", diz Leonardo Boff


O teólogo Leonardo Boff foi o principal conferencista em uma mesa de debates sobre a Carta da Terra, no dia 22, no último dia do Fórum Mundial de Educação em Porto Alegre. Boff falou sobre os princípios que regem a carta, que deveria ter sido um dos documentos oficiais da Rio 92, mas sobre o qual não houve consenso. Um grupo continuou trabalhando paralelamente sobre o documento, concluído em 2000.

Em sua conferência, Boff disse que a carta foi baseada em quatro princípios. O primeiro é a idéia de que todos os seres se inter-relacionam na cadeia da vida. O segundo é a filosofia da utopia humana, que aspira a um único mundo governado por todos. Em terceiro lugar, segundo ele, está a globalização, que com todos os seus efeitos maléficos trouxe também benefícios, como as redes de comunicação, as estradas e rodovias que permitem a ligação de todos e a nova utopia global. "Utopia de uma globalização de rosto humano, onde a solidariedade e a cooperação se transformem em projetos políticos, em projetos pessoais." O último princípio seria a idéia do risco que paira sobre o planeta, desde o surgimento das armas de destruição em massa e o princípio de auto-destruição, que possibilita a destruição de toda a biosfera, impossibilitando o projeto planetário humano.

"Então, este é o contexto de onde surge a Carta da Terra. A Carta da Terra é uma resposta, uma expressão desse novo estado de consciência da humanidade. É um alerta em primeiro lugar, é um risco, mas esse risco comporta chances. Onde há risco há também salvação. É página de convocação à humanidade para que ela desperte, inaugure novas práticas e que incorpore valores que tenham como destinação final esta nova mentalidade. O planeta Terra e a humanidade", disse durante a conferência. "A nova questão hoje é: que futuro tem o planeta Terra e que futuro tem a humanidade?"

Após o seu discurso, Boff conversou com jornalistas. Leia a seguir alguns trechos da entrevista coletiva, onde ele fala sobre educação e sobre um processo de mudança para uma nova relação com o ambiente.

Pergunta: O senhor acha que a escola pode ser um veículo, um instrumento para disseminar as idéias que estão na Carta da Terra?


Boff: Eu creio que em dois momentos a escola é fundamental. Primeiro num momento de uma nova consciência, aprendendo os dados sobre a situação da Terra, sobre a natureza, sobre a biodiversidade e sobre a nossa responsabilidade desde pequeninos até o resto da vida sobre a casa comum que é o planeta Terra, as águas, os ecossistemas, os animais, as plantas. E em segundo lugar, a escola deve se articular com a própria natureza diretamente, organizar que os estudantes tenham contato com as plantas, com os animais, conheçam a história e a inter-relação entre todos eles e finalmente sintam o ambiente não como uma coisa exterior, mas como uma coisa que pertence à vida humana. Nós somos parte do ambiente, por isso, ao invés de falar de meio ambiente vamos falar do ambiente inteiro, e sentir que o mesmo destino da natureza é o nosso destino. A partir daí nasce uma consciência de responsabilidade, uma ética do cuidado para que todas as coisas que estão doentes se regenerem e as que estão sadias possam evoluir junto conosco.

Pergunta: Mas a escola está tão desatualizada, desaparelhada, carece de recursos. Não é muito difícil?


Boff: Mas para essa educação ecológica não precisa de nenhum recurso. Basta abrir os olhos, os ouvidos, abrir as mãos, fazer passeios ecológicos, cuidar das águas, das praças, dos animais.

Pergunta: Mas isso não depende também da formação dos professores?


Boff: É, este é um desafio novo, uma nova situação da humanidade, da Terra, obriga a uma nova atitude, um novo conhecimento, novas práticas. Se desejamos preservar essa herança que recebemos ou se deixaremos que ela se degrade a ponto de atingir nossa própria vida, nossa própria casa. Ao chegar a uma situação dessas o ser humano percebe a degradação da qualidade de vida 3e percebe a importância de ter uma relação boa com a natureza, não agressiva e não destruidora com o meio ambiente.

Pergunta: Como se pode mudar a relação das pessoas com o ambiente?


Boff: É preciso ter uma visão mais integral da ecologia, que toma o ambiente natural em que estamos metidos, isto é o ar que respiramos, o chão que pisamos, o alimento que comemos, a água que bebemos, mas também a ecologia social, que vê as relações sociais como agressões ao ser humano. Talvez o ser mais ameaçado hoje não é a baleia, o mico-leão-dourado. É o ser humano pobre, obrigado a morrer antes do tempo, se está doente não pode se tratar, se tem fome não pode comer. Então a ecologia social cuida da justiça ecológica, ou seja, qual é a relação correta para com esse ser complexo que é o ser humano, mas também a ecologia mental, quais são as idéias e categorias que estão em nossa cabeça que nos levam a discriminar, a usar da violência, que nos levam a destruir uma mata, poluir o solo. Se colocarmos outros conteúdos na consciência, mais solidariedade, menos exploração, mais cooperação, menos competição, então o ser humano abre a mente para uma nova atitude. E finalmente uma ecologia integral que vê o ser humano como um elo de uma grande corrente de vida que envolve a Terra e o universo. Então o processo da ecologia é o crescimento para dentro dessa nova sensibilização com tudo o que está à nossa volta e com o que convivemos e não estamos alheios a eles, pois tanto podemos ser anjos bons que protegem, como podemos ser satãs que matam.

Fonte: http://www.rebea.org.br


Um olhar para o futuro

Aldem Bourscheit*


O ex-frade franciscano Leonardo Boff, 63 anos, estudioso da ecologia social, autor de mais de 60 livros e considerado um dos criadores da Teologia da Libertação – que nos anos 70 propôs uma fusão entre marxismo e cristianismo –, concedeu essa entrevista no dia 22 de maio de 2002, na abertura do Seminário Estadual sobre Educação Popular. O evento se realizou no Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre (RS).

Para o teólogo, membro da Comissão da Carta da Terra para América Latina e Caribe, a sociedade mundial encontra-se numa verdadeira encruzilhada em decorrência de um modelo de desenvolvimento predador e suicida, e deve decidir agora sobre seu futuro. Leonardo Boff recebeu em 2001 o Prêmio Right Livelihood (Correto Modo de Vida), que alguns consideram uma espécie de Nobel alternativo.

Aldem Bourscheit - Disciplinas como ética, filosofia e até ensino religioso foram sistematicamente retiradas dos currículos escolares brasileiros, principalmente a partir do regime militar. Qual é ou qual era o “problema” com essas disciplinas?

Leonardo Boff - Essas disciplinas são humanísticas, e toda disciplina humanística coloca a questão do sentido da vida, dos fins, do ser humano, e isso contrasta com a outra opção tecnológica, que cuida mais dos meios, em função de um certo tipo de desenvolvimento, material. Esse modelo normalmente não insere duas dimensões fundamentais, que são o ser humano, como destinatário desses bens, e a natureza, cuja depredação é praticamente inconsciente e ilimitada.

Eu acho que o resgate dessas dimensões humanísticas coloca no centro a destinação de todo o processo tecnológico, de desenvolvimento, da economia, em função da vida e em função da vida humana. E por outro lado, suscita de imediato a questão ética. Isto é, todos os saberes devem assumir a responsabilidade de serem úteis para o ser humano, de ajudarem o ser humano a manter a herança que ele herdou do passado, seja cultural, seja natural - a herança ecológica. Ao mesmo tempo, ajuda o ser humano a estabelecer uma relação bem fazeja do outro com a natureza, de tal maneira que o saber seja um momento de diálogo do ser humano com a realidade e ao mesmo tempo uma forma de aprofundar sua relação com a realidade, não cortá-la, no sentido da dominação, mas reforça-la no sentido de sentir-se junto à cadeia da vida, sentindo-se parte e parcela de um todo que o desborda por todos os lados.

A ética procura suscitar esta questão, e ela é hoje uma demanda fundamental, porque a falta de ética está degradando o tecido social, em termos de milhões e milhões de excluídos, e está destruindo a base físico-química que permite a vida. Então, temos ética e nos salvamos, ou colocamos de lado a ética. Ou fazemos inclusive uma estratégia anti-ética e corremos o risco de ir ao encontro de dramas muito grandes, para a sociedade e para a natureza.
 

AB - Em vários textos, livros e palestras suas, o senhor comenta sobre uma situação de crise social decorrente de nosso modelo de desenvolvimento. Por que a população não consegue vislumbrar essa crise ou não consegue reagir a ela?

LB - A opinião pública é vítima de uma imensa desinformação. Uma desinformação que é intencionada, porque ela faz parte da lógica do sistema. O sistema é consumista, então, ele tende a produzir cada vez mais e criar o consumidor pela sua produção. E essa produção não é só consumista, ela é também depredadora - depreda a natureza tornando os recursos escassos. Esses dois fatores, uma vez denunciados, colocam em questão a lógica do sistema e o próprio sistema.

Hoje chegamos a um ponto em que colocamos as questões: Quanto de agressão a Terra ainda suporta? Quanto de injustiça social mundial o estômago ético humano ainda consegue digerir? Porque estamos chegando a limites extremos, seja de uma degradação total das relações sociais mundiais, pelo crescimento da pobreza, da marginalidade, da exclusão; seja pela sistemática degradação do sistema de vida, cujos relatórios revelam que de ano a ano ela cresce sem que haja políticas consistentes para colocar um limite a essa depredação.

Esses dois temas, que são contraditórios ao sistema dominante, são ocultados, e a grande parte da população está dentro do Titanic que está afundando, mas não se dá conta disso. As grandes empresas gaiamente continuam produzindo e consumindo como se a Terra fosse inesgotável e o mundo estivesse reconciliado. Então, esses limites possivelmente irão aflorar no momento em que a crise atingir a pela das pessoas, isto é, quando percebermos, por exemplo, que dentro de pouco teremos a crise mundial da água potável. Nações do mundo inteiro farão guerras devastadoras para garantir acesso a esse recurso natural. Então, esse fato despertará a consciência.

Mais 15 ou 20 anos, e a energia fóssil do petróleo encontrará um limite extremamente perigoso. Buscamos alternativas energéticas ou o modelo montado sobre essa energia entrará numa crise sistêmica. Fatos assim mobilizam as consciências e, aí sim, colocamos a questão das alternativas. Entretanto, é importante que o pensamento agora e os grupos elaborem essas alternativas, acumulem energia, porque quando a crise vier nós tenhamos propostas que sejam realmente boas, que permitam um outro ensaio civilizatório e não coloquem a humanidade num estresse de grande risco.

AB - Numa entrevista recente à revista Eco-21, o senhor fala em três cenários atuais: um seria conservador, outro, reformista, e por fim, um libertador. Podes explicar esses três cenários?

LB - O primeiro cenário eu chamo de conservador porque é o cenário das elites industriais e financeiras mundiais, que não despertaram ainda para o alarma ecológico. Parte da idéia de que os recursos são ilimitados e de que a Terra tem capacidade de regeneração, e de que o processo da tecnociência, que exige muita energia e exaustão e utilização massiva dos recursos naturais pode continuar. Eu creio que essa análise é irresponsável, porque todas as grandes instituições que abordam o estado da Terra mostram anualmente o crescimento da degradação e também os limites reais que a Terra tem. Essa visão conservadora é míope e perigosa, porque é assumida pela administração Bush (EUA), que fez disso política de governo, e agrava portanto a situação.

O segundo cenário é reformista porque se dá conta de que devemos combinar desenvolvimento e ecologia, mas não quer questionar a estrutura, a lógica do tipo de desenvolvimento, que é linear, consumidor das energias limitadas da Terra. Ao menos se incorporam tecnologias mais benevolentes, que diminuem a agressividade, que diminuem também o grau de contaminação do ar, das águas. Ele tem um certa vantagem porque ajuda a incorporar o discurso ecológico, mas tem a desvantagem de que quando há um conflito entre desenvolvimento e ecologia, sempre se opta pelo desenvolvimento e se abandona a ecologia, perpetuando-se a crise.

Já a terceira visão é a que efetivamente se dá conta de que chegamos a um momento de não retorno. Devemos preservar a única casa comum que temos, o planeta Terra, com um equilíbrio extremamente frágil, e elaborar uma economia e uma política que preserve a vida, garanta o sustento humano, e que refunde o pacto do ser humano com a natureza, incluindo esta como um novo sujeito social merecedor de respeito, e também com a consciência de que somos um elo na corrente da vida.

Na verdade não existe meio ambiente, mas sim a comunidade de vida. O ser humano tem a função de assumir responsabilidades, de ser guardião dessa riqueza, desse equilíbrio. Se nós não assumirmos essa responsabilidade, a reprodução da vida não será mais garantida pelas próprias forças da natureza, porque a nossa máquina de morte está tão azeitada e avantajada que ela pode produzir danos fundamentais para a biosfera e pode ameaçar nosso próprio destino.

O ser humano, no seu afã de destruição, criou 25 formas diferentes de destruir a vida, e isso é um fato inédito na consciência histórica. O ser humano podia fazer guerras, podia construir armas, mas nenhuma delas tinha a capacidade de destruir a si mesmo, e de forma completa. Agora nós podemos. Isso cria de um modo geral um mal estar na civilização, já notado por Freud em 1931, e hoje como um alarma das consciências.

Os grupos mais avançados, que todavia ainda não chegaram ao poder político, estão fazendo acumulação social, elaborando sua consciência, divulgando estratégias alternativas, e isso tem um caráter de urgência, porque introduzimos agora as modificações ou não teremos mais tempo para fazer essas modificações. Por isso o grau de urgência e de dramaticidade que estamos vivendo.

AB - Qual é a sua expectativa para a Rio+10 (Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, 26 de agosto a 4 de setembro, África do Sul) frente à situação mundial após os atentados de 11 de setembro aos Estados Unidos, agora que a temática da violência e do combate à violência com ainda mais agressões tem se ampliado no globo?

LB - A minha expectativa é de que aumente a consciência, não ainda que haja medidas importantes, já que as potências militaristas e hegemônicas no mundo, que são os países industrializados, não querem afetar suas vantagens comparativas de controlar o processo mundial econômico e financeiro. Não renunciam à sua hegemonia mesmo sabendo que estão sacrificando a Terra. Procuram prolongar a agonia, pensando nas suas vantagens. Mas são soluções insensatas, porque não se dão conta de que estão num Titanic que está afundando, e isso é curioso.

O ser humano é um ser criativo, surpreendente, nossa natureza é quântica, cheia de oportunidades e alternativas, e ele pode, depois que se decidiu a isso, buscar alternativas. A Carta da Terra, de cujo grupo eu sou integrante, tentou criar um consciência dessa nova alternativa, dessa nova urgência, e propor isso à discussão, primeiramente mundial, que já está sendo feita há vários anos, tendo inclusive sendo assumida pela Unesco. A partir do ano que vem, ela será proposta à ONU (Organização das Nações Unidas), para que esse organismo se confronte, assuma isso e a promulgue com os mesmos direitos e valor que a Declaração dos Direitos Humanos. Então, não só o ser humano vai ser defendido, mas a Terra como um sistema e os ecossistemas e cada ser vivo vão ser considerados como uma subjetividade que deve ser respeitada na sua autonomia, ganham uma certa cidadania, pertencem à dimensão da sociedade humana, e isso permitiria um novo estado de consciência global adequado à essa gravidade. O ser humano se forçaria a rever atitudes, hábitos, assumir valores que criem uma função salvacionista: Salvar a Terra e a vida dentro dela.

AB - Quais os passos então para que cheguemos a uma cultura da paz?

LB - Eu vejo duas tarefas fundamentais. A primeira é uma tarefa crítica de desconstrução de todo o imaginário social, que se orienta pelas festas tradicionais e cívicas, quase todas de cunho militar ou militarista. Celebramos vitórias militares, generais, marechais, e isso alimenta a perspectiva da violência. Os heróis não são aqueles grandes mestres da humanidade, professores, médicos, pintores, profetas, educadores, são aqueles que usaram armas, mataram, expandiram o território. Sempre na perspectiva dos vitoriosos, nunca na das vítimas. Devemos fazer uma crítica rigorosa a isso. Essa visão militarista não ajuda a uma cultura da paz, porque os símbolos todos são ligados a violência e à morte.

A segunda, é criar essa própria cultura da paz. É importante entender a paz como resultado de uma relação que o ser humano tem com outro ser humano, com outras formas de vida, consigo mesmo, com a natureza. Uma relação não agressiva, mas sim de cooperação, de sinergia, de sentir-se parte e parcela desse todo e entender, por exemplo, que a Terra não é uma espécie de baú cheio de recursos dos quais eu posso me apropriar, mas sim que a Terra é um super organismo vivo. O ser humano é a própria Terra, e no seu processo de evolução chegou o momento de pensar, de sentir, de amar, e hoje de se organizar na perspectiva da sobrevivência. Terra e humanidade formam uma totalidade, uma grande unidade, que é a perspectiva que os astronautas nos transmitem, porque lá de suas naves espaciais, ao olhar a Terra, eles não distinguem Terra e humanidade. É uma totalidade só. Terra viva e, dentro dela, a humanidade.

Essa perspectiva tem que entrar na consciência coletiva, e a nossa responsabilidade, que está na primeira página do Gênesis, diz que o ser humano é chamado a ser o guardião da natureza, ser o jardineiro, aquele que cuida, que desenvolve os processos presentes na natureza. Mas até hoje ele se mostrou satã da Terra. Pelo menos no último milhão de anos em que o ser humano interage conscientemente na natureza, ele começou a ter uma relação de agressão, de matar animais, de desflorestar, envenenar águas. Mesmo os processos civilizatórios de criar tabus, as próprias religiões e a ciência, não conseguiram frear a agressividade humana. Só que hoje, ou nós freamos ou ela será destrutiva de todas. Aí está a importância do processo educativo, de uma ética, de um espiritualidade, que imponham limites à voracidade humana. O tempo histórico corre contra nós, numa contagem regressiva.

Essa análise não é uma dramatização, mas aquilo que é a relação natural que nos vêm frente aos relatórios sobre o estado da Terra. Recentemente saiu o Estado da Terra 2002. Quem ler os dados fica apavorado. Por que? Porque estamos atacando a nós mesmos. Não porque as pessoas são perversas, mas porque estão dentro de uma lógica, de um sistema que no seu funcionamento leva à agressão, à ruptura dos equilíbrios, à super exploração do ser humano, à degradação dos ecossistemas, e não permite que a Terra se regenere e recupere seu equilíbrio.

A escola reproduz a sociedade dominante, que é a função normal da escola, é a chocadeira da ideologia dominante preparando as crianças e as pessoas para esse tipo de sociedade, ou assume uma função crítica passando a ser um nicho de reinvenção, de um novo sonho, de novas práticas, de novos valores, que respondem aos dramas da realidade. É muito importante hoje informar-se, dar-se conta do estado da Terra, sobre como está o nível da violência entre as pessoas no mundo, os equilíbrios climáticos são extremamente frágeis, os níveis da poluição atmosférica, a carência fantástica de água potável, o bem mais escasso da natureza, as limitações da energia fóssil. Esses todos são pontos de estrangulamento, onde o sistema sucumbe. Ele mesmo muda ou ele não terá condições internas de dar uma resposta.

AB - Observando todos esses problemas, quais seriam então o papel e as reformas necessárias nas instituições de ensino para que voltemos nossos passos em direção a um futuro melhor?

LB - Eu acho que há duas tarefas de base. Para aqueles que estão na cultura dominante, no processo de produção, os cidadãos como nós todos, aí se impõe um processo de conversão. Isto é, de uma redefinição das práticas, de uma mudança de consciência, e isso tem que ser feito porque senão seremos cúmplices de um eventual desastre. E aqueles que estão entrando na sociedade via escola, que já cresçam numa nova mentalidade, já cresçam como cidadãos planetários, pessoas que tenham uma relação de benevolência, de sinergia com a natureza, que protegem todas as espécies, as águas. Que se estabeleça como nova centralidade não a produção, não o mercado, mas a vida em toda a sua diversidade, e a economia e a política como formas de defender, promover e expandir a vida. Isso supõe um novo padrão civilizatório.


Então, ao que a educação é chamada a desenvolver é uma grande revolução, das consciências, da ética, da espiritualidade, que dá a percepção dos valores, do sentido das coisas. Isso nós não fazemos porque queremos, mas porque estamos condenados a isso. Ou nós decidimos viver e nos submetemos a isso ou vamos ao encontro do pior.
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*Aldem Bourscheit é jornalista, assessor de comunicação da Abema (Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente) e membro do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ/RS)

Fonte: http://www.agirazul.com.br/artigos/aldem-boff.htm


A CARTA DA TERRA

UNESCO (*)

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e é causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de negócios, governos e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger o direito das pessoas.

b. Afirmar que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada uma a oportunidade de realizar seu pleno potencial.

b. Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem, a longo termo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro extensos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.

a. Adotar planos e regulações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas em perigo.

d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.

e. Manejar o uso de recursos renováveis como a água, solo, produtos florestais e a vida marinha com maneiras que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.

f. Manejar a extração e uso de recursos não renováveis como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão e não cause sério dano ambiental.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica seja incompleta ou não conclusiva.

b. Impôr o ônus da prova àqueles que afirmam que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e de longa distância.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de sustâncias readioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis como a energia solar e a do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência equitativa de tecnologias ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar aos consumidores identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e o suficiente material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.

a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social, econômico e ambiental.

a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e dar seguro social [médico] e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se a si mesmos.

c. Reconhecer ao ignorado, proteger o vulnerável, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimeto humano de forma eqüitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro e entre nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e aliviar as dívidas internacionais onerosas.

c. Garantir que todas as transações comerciais apoiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas laborais progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiros plenos e paritários, tomadores de decisão, líderes e beneficiários.

c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a criação amorosa de todos os membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os para comprir seu papel essencial na criação de sociedades sutentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado cultural e espiritual.

IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso à justiça.

a. Defender o direito a todas as pessoas de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tivessem interesse.

b. Apoiar sociedades locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na toma de decisões.

c.  Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição [ou discordância].

d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo mediação e retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes e designar responsabilidades ambientais a nível governamental onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar na educação formal e aprendizagem ao longo da vida os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que os habilite a contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades assim como das ciências na educação sustentável.

c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massas no sentido de aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e diminuir seus sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento externo, prolongado ou evitável.

c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies que não são o alvo [ou objetivo].

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

a. Estimular e apoiar os entendimentos mútuos, a soliedariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro e entre nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição de massa.

e. Asegurar que o uso de espaços orbitais e exteriores mantenham a proteção ambiental e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a integridade criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com o grande Todo do qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que comprometer-nos a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de de um modo de vida sustentável a nível local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender da continuada busca de verdade e de sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresa é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra junto com um instrumento internacional legalmente vinculante com referência ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, por um compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida.

 

NOTA

(*) No dia 14 de março de 2000 na Unesco em Paris foi aprovada depois de 8 anos de discussões em todos os continentes, envolvendo 46 países e mais de cem mil pessoas, desde escolas primárias, esquimós, indígenas da Austrália,do Canadá e do Brasil, entidades da sociedade civil, até grandes centros de pesquisa, universidades e empresas e religiões a Carta da Terra. Ela deverá ser apresentada e assumida pela ONU no ano 2002 com o mesmo valor da Declaração dos Direitos Humanos. Por ela poder-se-ão agarrar os agressores da dignidade da  Terra, os Pinochets anti-ecológicos em qualquer parte do mundo e levá-los aos tribunais. Na Comissão de Redação estavam  Mikhail Gorbachev, Maurice Strong, Steven Rockfeller, Mercedes Sosa, Leonardo Boff e outros. Aqui segue a Carta para ser discutida em todos os âmbitos.

Fonte: http://www.dataterra.org.br


Link do site de Leonardo Boff: http://www.leonardoboff.com/


Projeto Apoema - Educação Ambiental

www.apoema.com.br